sexta-feira, 24 de maio de 2013

Leonor Pinhão

"91 minutos à Benfica"
Tenho dado por mim a pensar com alguma frequência numa certa coisa. Precisamente nisto: no futuro, mais ou menos próximo e traga ele o que trouxer, como recordarão benfiquistas esta época de 2012/2013? 
Calma. Escusam de me vir lembrar, pressurosamente, que ainda falta a final da Taça de Portugal. Eu sei. É já no próximo domingo à tarde no Jamor, como manda a tradição. 
O Benfica vai jogar a sua última final da época com o Vitória de Guimarães de Rui Vitória. Só dizer isto, “o Vitória de Guimarães de Rui Vitória” é, podem crer, expressão franca de elogio ao trabalho de um treinador que fez renascer a alma vimaranense para as emoções maiores do futebol.
Para cúmulo chama-se, ele próprio, Vitória de apelido. 
Nos momentos de maior pessimismo que, inevitavelmente, se seguiram e se continuam a seguir aos injustos desaires no campeonato nacional e na Liga Europa tem havido ocasiões em que até o apelido do treinador do Vitória de Guimarães me causa, confesso, calafrios. 
E nem é preciso dar grandes largas à imaginação. Basta só deitar-me a imaginar o dia seguinte, em caso de vitória do Vitória de Rui Vitória, e as grandes parangonas nas primeiras páginas dos jornais com VITÓRIA & VITÓRIA em letras garrafais sobre um fundo de festivos papelotes brancos e pretos, as cores de Guimarães no que ao futebol diz respeito. 
Esqueçamo-nos por momentos da final da Taça de Portugal. Até porque já sabemos o que nos espera. Se o Benfica a ganhar, como espero que aconteça, com todo o respeito pelo Vitória de Guimarães, os nossos rivais vão imediatamente desvalorizar o troféu porque é do seu interesse acentuar e pôr toda a tónica na desdita que nos caiu em cima nos jogos com o Estoril, com o FC Porto e com o Chelsea (por esta ordem). 
Se o Benfica ganhar a Taça de Portugal, coitada da Taça de Portugal, lá se vão os pergaminhos da vetusta competição que, na retórica, passa a ter menos importância do que a Taça da Liga num abrir e fechar de olhos. A acontecer, não se enervem benfiquistas. Seria precisamente o que faríamos, sem dó nem piedade, aos nossos rivais passassem eles por semelhantes tormentos. 
Se o Vitória de Guimarães sair vencedor do Jamor, também já sabem o que nos espera, não é verdade? A Taça de Portugal é promovida a Liga dos Campeões. E nós bem tramados com o que vamos ter de ouvir. 
 
São estas razões mais do que suficientes para deixar de lado, e já não era sem tempo, a questão da Taça de Portugal – que seja uma festa, um grande jogo e que vença quem for melhor! – e voltarmos ao assunto do início. 
No futuro, venha o que vier, como recordarão benfiquistas esta época de 2012/2013?
O 92 virá inapelavelmente à colação. O Benfica perdeu o campeonato nacional ao minuto 92 no Porto e perdeu um título europeu que persegue há mais de meio século ao minuto 92 na Arena de Amesterdão. Por não trazer qualquer espécie de novidade nem acrescento de monta a esta conversa, nem é preciso grande demora a elogiar todo o saber estar dos nossos adeptos nestas horas más. Foram maravilhosos. Já se sabia.
Aliás quanto mais o Benfica é do Benfica e quanto mais está entregue ao Benfica, melhor é o Benfica. Isto também já se sabia mas convém sempre recordar. 
E de árbitros? O que dirão, no futuro, os benfiquistas dos árbitros de 2012/2013? Julgo que, por exemplo e para variar, Pedro Proença vai passar incólume. Deve agradece-lo e muito a James Rodriguez que, já perto do fim do clássico no Porto, falhou escandalosamente no frente-a-frente com Artur depois de uma arrancada em posição, convenhamos, de flagrante irregularidade. 
Poderão, porventura, referir-se, no futuro, a este título do FC Porto como o do “ano das cinco mãos” ou, de forma mais personalizada, como “o campeonato do Hugo Miguel”. Mas para quê? No futuro, benfiquistas, não percam tempo com essas coisas que só nos ficam mal porque esse continuado lamento até nos passa um atestado de incompetência (crónica). 
Hugo Miguel é um árbitro como outro qualquer. Tem dias bons e tem dias maus. De acordo com um antigo balanço feito pelo “Público” ao processo de corrupção que abalou o nosso futebol, Hugo Miguel foi um dos árbitros sobre os quais caíram vagos indícios dourados mas “a situação acabou por ser arquivada porque a má qualidade de som da escuta” impediu que a matéria em causa pudesse “ser analisada pela equipa de peritos”. 
Irrelevâncias. E dal forma irrelevantes que não impediram o árbitro em causa de vir a ser promovido à primeira categoria. Há coisa de um ano, Vítor Pereira, o presidente dos árbitros, não o treinador do FC Porto, afirmou numa entrevista que “esta geração de árbitros já não é a dos quinhentinhos”. Tem toda a razão. Não é mesmo. 
No entanto, ainda é de forma substancial a geração do apito dourado. Tenho para mim, por ser supersticiosa, que enquanto esta geração de árbitros contemporânea do apito dourado se mantiver de pé até ao último homem, o Benfica só ganha um campeonato de cinco em cinco anos. Oxalá me engane.
 
Tenho, no entanto, por certo que os benfiquistas recordarão, no futuro próximo e no distante, que a época de 2012/2013 coincidiu com a passagem pelo Benfica de um jogador sérvio absolutamente notável chamado Matic. Tivesse o Benfica sobrevivido ao minuto 92 no Porto, posso garantir que estaria agora a escrever que este tinha sido o “campeonato do Matic”. 
Como não sobreviveu, vejo-me forçada a escrever, com muita pena, que este foi decididamente “o campeonato do Kelvin”, pela importância astronómica dos golos do jovem brasileiro nos jogos contra o Sporting de Braga e contra o Benfica. Antes isto do que passar os próximos meses a chorar “o campeonato do Hugo Miguel”. 
Os benfiquistas mais inclinados para as questões prementes da equipa de futebol – e julgo que serão todos – recordarão esta época como aquela em que o Benfica não colmatou minimamente as inevitáveis vendas de Javi Garcia e de Axel Witsel e entregou durante o ano inteiro o trabalho no “miolo” a dois homens – ao tal Matic e ao “adaptado” Enzo Pérez. 
Ambos deram tudo o que tinham e também o que não tinham. Obrigada. Mas sempre que foi preciso ir buscar ao banco gente para os substituir, a coisa correu mal porque nem Carlos Martins nem Pablo Aimar alguma vez se mostraram em condições de estar ao nível da primeira linha. 
Muitos recordarão assim esta época em que o Benfica jogou com autoridade e brilho durante meses a fio mas em que viria a claudicar nos momentos decisivos porque a sua segunda linha, quando foi chamada, ficou muito longe da primeira linha por razões que saltaram à vista. E nem percam tempo a apontar o dedo a Roderick no golo de Kelvin nem a Jardel no golo de Inanovic. Não é com estas coisas que se deve perder tempo.
Quanto ao passado, estamos conversados. 
Quanto ao futuro, ninguém o conhece, excepção feita ao bruxo de Fafe. Mas dá-me ideia de que o bruxo de Fafe está comprado porque apita sempre para o mesmo lado.
Sei, no entanto, como gostaria de recordar, daqui a alguns anos, esta época do Benfica.  
Assim:
Como a última época antes da grande viragem, a época em que se estreou André Almeida como titular, a época em que se aprendeu que são dispensáveis conferências de imprensa a dizer mal dos árbitros quando o Benfica até seguia na liderança com 4 pontos de avanço a poucas jornadas do fim e depois da Capelada do derby, a época em que os nossos adoráveis adeptos confortaram os nossos jogadores nas horas de infortúnio, a época em que, depois de tanta lágrima, o presidente renovou o contrato com o treinador porque sabia que estava no caminho certo. E o tempo deu-lhe razão.
E já faltou mais tempo. Este ano estivemos perto. Depois de uma longa caminhada já chegámos ao patamar dos 91 minutos à Benfica. Penso que com mais 2 ou 3 minutinhos dá-se a volta à coisa e não tarda." in A Bola

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