A paragem no campeonato chega em boa altura. É óptimo que os críticos do Benfica possam ter uns dias para inventar novas razões pelas quais a equipa de Jorge Jesus não os impressiona. No princípio, foram os troféus da pré-época. Cada torneio ganho constituía uma nova vergonha para os benfiquistas. Era uma estupidez andar a ganhar títulos que não valiam nada. O primeiro milho é para os pardais e a pré-época não tem significado, o que veio a confirmar-se: o Benfica, que ganhou tudo, está nas ruas da amargura; o Sporting, que perdeu com toda a gente menos com o Cacém, pratica um futebol vistoso e vencedor. Depois, foram os reforços. Cada novo reforço embaraçava o Benfica. Suplentes do Real Madrid eram uma péssima escolha. Quem jogava bem, como toda a gente sabia, eram os suplentes do Manchester City e do Colón. Mais uma profecia cumprida: Saviola e Javi García deixam muito a desejar, enquanto as exibições de Caicedo e Prediger têm encantado adeptos do futebol em todos os estádios. A seguir, vieram as goleadas. Cada goleada era motivo de gozo. É estúpido golear. Cansa muito. Por exemplo, enquanto o Benfica se afadigou indo a Belém golear por 4-0, o Porto poupou energia empatando com o Belenenses em casa. Ao passo que o Sporting, ajuizadamente, geriu o esforço no empate com o Nacional, o Benfica desperdiçou músculo a golear o mesmo Nacional por 6-1. Estava à vista de todos que o Benfica andava a fazer as coisas mal feitas.
E foi assim que chegámos ao clássico do último domingo. O terceiro classificado da época passada, aliás bastante desfalcado, jogava contra o tetracampeão na máxima força. Finalmente, um verdadeiro teste. Os jogos anteriores, as goleadas, as boas exibições não tinham valor. Agora, sem vários titulares, é que estavam reunidas condições apropriadas para se ver que Benfica era este. E, na minha modesta opinião, viu-se. O jogo era tão fácil para o Porto que Jesualdo Ferreira tinha dito que o empate era um mau resultado. Por isso, apresentou-se na Luz claramente para ganhar, com um meio campo bem ofensivo, que incluía criativos tão fantasistas como um Guarín, um Meireles e um Fernando. Para mim, foi um déja vu. Estava no Estádio da Luz antigo quando Jesualdo Ferreira entrou em campo com os trincos Petit e Andrade para jogar contra o Gondomar. Desta vez, deve ter pensado que o Benfica estava ainda mais fraco que os gondomarenses, de modo que resolveu acrescentar mais um trinco ao jogo, não fosse o diabo tecê-las.
No entanto, Jesualdo não foi o único treinador defensivo da noite. É verdade que o Porto entrou em campo com três trincos, mas devemos ser justos e admitir que o Benfica passou o jogo todo com 3 centrais: Luisão, David Luiz e Falcao. Um exagero de Jorge Jesus. Pinto da Costa bem tinha agradecido aos olheiros do Benfica a contratação do Falcao pelo Porto (no fim do jogo, também fui ao gabinete de prospecção agradecer-lhes) e o rapaz, uma vez que foi descoberto pelos nossos olheiros, deve ter-se sentido na obrigação de jogar por nós.
Por isso, Hulk jogou sozinho no ataque com Rodriguez, o que não lhe fez confusão nenhuma. Na verdade, Hulk joga sempre sozinho, quer esteja acompanhado ou não. O Hulk da banda desenhada é conhecido por se irritar; este é conhecido por irritar os sócios do Porto. Como é evidente, gosto muito mais dos super-poderes deste. Quando, ainda na primeira parte, Hulk fez aquele remate à baliza que saiu pela linha lateral, comecei a fazer uma colecta na bancada onde tenho o cativo. O objectivo é pagarmos a cláusula de rescisão de 100 milhões mas para o obrigar a ficar no Porto. Em breve darei notícias.
Quanto a Rodriguez, observei atentamente o seu jogo e confesso que já não sei se ele não renovou pelo Benfica porque não quis ou porque foi dispensado. Mas, se um dia ele quiser voltar, por mim recebê-lo-ei no clube sem ressentimentos. Desde que seja para jogar na equipa de andebol.
A linha avançada do Porto, Falcao, Hulk e Rodriguez, era, portanto, constituída por um futebolista que jogou na nossa defesa, outro que jogou sozinho, e outro que jogou outra modalidade. Mas atenção: não quero com isto dizer que a equipa do Porto é má. Nada disso. O Porto tem bons jogadores. Estão é todos no Olhanense.
Quando, na final da Taça da Liga, Lucílio Baptista assinalou mal um penalty a favor do Benfica, foi à televisão assumir publicamente o erro. Desta vez, não assinalou um penalty que toda a gente viu – mas não compareceu nos telejornais. É normalíssimo: os erros contra o Benfica não são notícia. Se cada árbitro que erra contra o Benfica fosse ao telejornal, os noticiários duravam três horas.
Ricardo Araújo Pereira in "A Bola"
domingo, 27 de dezembro de 2009
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lool fortissimo!
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